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quinta-feira, 28 de maio de 2009

O LIVRO E A HISTORIA


São Paulo, 29 ago (Lusa) - A história de cinco bordadeiras que deixaram a Ilha da Madeira para viver no Brasil, na década de 50, e que ainda mantêm viva a tradição do bordado, é resgatada num livro lançado esta semana em São Paulo. 

"Bordadeiras do Morro São Bento - A vida tecida entre o linho e as linhas" é resultado de uma tese em Gerontologia (estudo da velhice) na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), da brasileira Gisela Kodja, 50 anos. 

O livro inclui narrativas das bordadeiras que vivem no Morro São Bento, local que concentra uma grande comunidade portuguesa, na cidade de Santos, no litoral sul de São Paulo. 

"Como neta de sírio-libaneses, esse sentimento de quem deixa a sua terra natal para nunca mais voltar sempre me intrigou muito", disse a autora à Agência Lusa. 

"Decidi então resgatar a história oral abandonada dessas bordadeiras que já chegaram a formar um grupo de 300 mulheres, mas que hoje não têm herdeiras no ofício", assinalou. 

Com idades entre 76 e 81 anos, as entrevistadas, Dona Isabel, Beatriz, Maria Teresa, Maria Alexandre e Maria Paixão, herdaram o ofício de suas mães, bordam desde crianças. 

Valorizado e símbolo de status local no século passado, o bordado da Ilha da Madeira ofereceu uma oportunidade de reforçar o orçamento doméstico e garantir respeito e visibilidade em terra estrangeira. 

Nas décadas seguintes, entretanto, com o aumento da oferta de tecidos em grande escala pela indústria, a procura do bordado da Ilha da Madeira diminuiu. 

Em meados de 1980, as portuguesas fundaram a União das Bordadeiras do Morro São Bento e começaram a dar aulas de bordado. 

"Essa atividade que, com tanta intensidade, preencheu a existência dessas mulheres, não despertou o interesse de suas filhas e netas", salientou Kodja. 

"As gerações seguintes declaram admiração e respeito pelo bordado, mas não fazem dessa arte o seu ofício. No Morro São Bento, o bordado da Ilha da Madeira é um tesouro sem herdeiros", concluiu a autora. 

Atualmente, quatro dessas bordadeiras (Dona Beatriz faleceu) oferecem cursos de bordados em duas associações comunitárias de Santos. 

Na ótica de Gisela Kodja, "o bordado é uma conversa interior, com o passado, com o afeto da infância, recompõe a história pessoal, é uma forma de sobreviver numa terra estrangeira". 

A autora demonstrou o desejo de lançar também na Ilha da Madeira o seu livro, que traz fotos de Marcos Piffer e tem o patrocínio do Instituto Cultural de Artes Cênicas do Estado de São Paulo (Icacesp). 

"Seria o máximo ter a oportunidade de apresentar também ao povo da Ilha da Madeira tudo o que essas cinco bordadeiras realizaram tão longe de lá ao longo de suas vidas", afirmou. 

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